Gliomas são os tumores cerebrais que se originam de células gliais. As células gliais são as responsáveis pelo suporte e trofismo dos neurônios.
As células gliais podem ser distinguidas da seguinte forma:
– Astrócitos: protegem estruturalmente os neurônios.
– Oligodendrócitos: produzem a mielina que envolve o axônio (estruturas neuronais que garantem a conectividade entre os próprios neurônios).
– Células ependimárias: recobrem os ventrículos onde o líquido céfalo-raquidiano (líquor) está contido.
A malignidade histológica depende da diferenciação das células: que podem ser bem diferenciadas (isto é, similar ao tecido saudável), portanto com menor grau de malignidade; ou mais indiferenciada (isto é, apresentando muitas alterações em
comparação ao tecido cerebral normal, também chamada de anaplasia) e portanto mais maligno.
– Grau I é bem diferenciado, costuma ter um comportamento mais benigno.
– Grau II apresenta áreas de indiferenciação, mas que ainda não resultaram em anaplasia.
– Grau III – apresenta anaplasia importante e alterações teciduais marcadas.
– Grau IV é o tumor indiferenciado, com características e comportamento de malignidade
absoluta.
ASTROCITOMA PILOCÍTICO (GRAU I DA OMS)
O astrocitoma pilocítico é um tumor muito frequente em crianças e representam em torno de 10% de todos os gliomas.
O local mais frequente de desenvolvimento é o cerebelo, mas ele pode também afetar o hipotálamo e o quiasma óptico.
EPENDIMOMA DE BAIXO GRAU (GRAU II DA OMS)
O ependimoma de baixo grau é também um tumor típico de pacientes pediátricos.
Ele se origina das células ependimárias que recobrem as cavidades ventriculares cerebral. Em particular, ele desenvolve-se no epêndima do IV ventrículo, na fossa posterior. Mas também pode emergir dos ventrículos laterais.
GLIOMAS DE BAIXO GRAU (GRAU II DA OMS)
Gliomas de baixo grau podem ser divididos em:
– Astrocitomas: tumores originados dos astrócitos
– Oligodendrogliomas: tumores originados de oligodendrócitos
– Oligoastrocitomas: tumores constituídos de um misto de astrócitos e oligodendrócitos patológicos.
Esses tumores afetam primariamente adultos jovens.
GLIOMAS ANAPLÁSICOS (GRAU III DA OMS)
Os gliomas anaplásicos podem ser divididos em:
– Astrocitoma anaplásico
– Oligodendrogliomas anaplásicos
– Oligoastrocitomas anaplásicos
– Ependimomas anaplásicos
Esses tumores podem emergir como consequência de uma transformação maligna de um glioma de baixo grau ou eles podem surgir primariamente nessa condição.
Eles afetam indivíduos de meia idade e mais frequentemente do sexo masculino.
GLIOBLASTOMA (GRAU IV DA OMS)
O glioblastoma é de longe o tumor cerebral primário mais agressivo e um dos mais letais entre todos as neoplasias humanas.
Ele afeta geralmente indivíduos sexagenários, mas pode aparecer em qualquer idade.
SINTOMAS
ASTROCITOMA PILOCÍTICO (GRAU I DA OMS)
Uma vez que se trata de um tumor de crescimento lento, os sintomas podem ser silenciosos por longo período de tempo.
Quando ele ocorre, ele costuma estar relacionado ao fato de que o mesmo é frequentemente localizado na fossa posterior e inclui distúrbios de equilíbrio, coordenação motora e sintomas relacionados a hidrocefalia (acúmulo do líquido céfalo-raquidiano pela obstrução dos circuitos de drenagem desse fluido). Também sintomas visuais podem ocorrer.
EPENDIMOMA DE BAIXO GRAU (GRAU II DA OMS)
Precisamente porque é frequentemente localizado no interior do IV ventrículo, os sintomas são relacionados tanto à compressão de estruturas cerebelares (equilíbrio e coordenação) e à emergência de hidrocefalia, pela obstrução do fluxo do líquor.
GLIOMAS DE BAIXO GRAU (GRAU II DA OMS)
Os sintomas dependem do sítio onde o tumor está localizado. Eles frequentemente manifestam-se com convulsão.
Os sintomas podem ser:
Cefaleia (dor de cabeça)
Náusea e vômito
Distúrbios da linguagem
Prejuízo visual
Distúrbios do equilíbrio
GLIOMAS ANAPLÁSICOS (GRAU III DA OMS)
Da mesma forma, os sintomas estão relacionados ao local onde o tumor teve origem e incluem:
Cefaleia
Náusea ou vômitos
Distúrbios da linguagem
Distúrbios visuais
Desequilíbrio
Convulsões
GLIOBLASTOMA (GRAU IV DA OMS)
O glioblastoma é um tumor de crescimento rápido. Portanto, frequentemente os sintomas estão relacionados ao aumento da pressão intracraniana causado pelo efeito expansivo da neoplasia. Podem sintomas como cefaleia, náusea, lentificação cognitiva e motor ou pode ir além e comprometer o estado de consciência. Também nesses casos os sintomas dependem da localização e da extensão da lesão:
Distúrbios da linguagem
Distúrbios visuais
Desequilíbrio
Alterações de personalidade
perda de memória
convulsão
DIAGNÓSTICO
É importante frisar que o diagnóstico de todas essas lesões somente é possível pela análise histopatológica e a sua correta classificação depende de estudo imuno-histoquímico.
ASTROCITOMA PILOCÍTICO (GRAU I)
A Ressonância magnética (RM) cerebral costuma revelar uma lesão com bordas irregulares, formada por um nódulo sólido que capta contraste, que pode ou não conter calcificações no seu interior. Pode haver um componente cístico que não impregna pelo contraste.
EPENDIMOMA DE BAIXO GRAU (OMS grau II)
A RM cerebral pode revelar a presença de uma lesão irregular no interior dos ventrículos cerebrais, com um conteúdo cístico, necrótico ou hemorrágico, bem como calcificações. O Diagnóstico final é obtido por exame histopatológico.
GLIOMAS DE BAIXO GRAU (OMS GRAU II)
O diagnóstico radiológico é obtido com Tomografia Computadorizada (TC) e RM de crânio. Nesses exames, observa-se lesões que não contrastam, com bordas irregulares e um edema perilesional discreto.
A apresentação típica dos oligodendrogliomas é com evidência de calcificações no interior das lesões.
GLIOMAS ANAPLÁSICOS (OMS GRAU III)
Através da TC e da RM, revelam-se lesões sólidas com uma margem muito mal definida, que capta contraste intensamente. Há um edema circunjacente muito expressivo.
GLIOBLASTOMA (OMS GRAU IV)
A investigação radiológica revela lesões infiltrativas, com componente sólido permeado por porções císticas e necróticas. Essas lesões captam intensamente o contraste, porém com impregnação muito irregular. Costumam apresentar um edme das estruturas circunjacentes muito exuberante. Quando diagnosticados, usualmente apresentam efeito expansivo (compressivo sobre o parênquima cerebral) marcado.
TRATAMENTO
ASTROCITOMA PILOCÍTICO (OMS GRAU I)
Em geral, o tratamento é limitado à remoção cirúrgica que, se concluída com sucesso, pode levar a um controle da doença de longo prazo em até 95% dos casos. Em alguns pacientes o manejo expectante (observação com exames seriados) é proposto pela equipe médica.
EPENDIMOMA DE BAIXO GRAU (OMS GRAU II)
Também nesses casos a cirurgia é possível e a remoção completa pode estabelecer um controle da doença de longo prazo. Quando a ressecção completa não é possível em decorrência da invasão de estruturas adjacentes importantes, a radioterapia é empregada nos casos de recidiva.
GLIOMAS DE BAIXO GRAU (OMS GRAU II)
O tratamento é a excisão cirúrgica. É importante que a remoção do tumor seja o mais amplo possível, preservando-se a integridade das áreas circunjacentes do cérebro.
Embora esse tipo de tumor apresente um comportamento de crescimento lento, a recidiva é uma tendência observada. Portanto, o acompanhamento com RMs seriadas no pós-operatório será necessária para garantir o diagnóstico precoce de retorno tumoral.
Em alguns casos, a quimioterapia e a radioterapia podem ser úteis.
O prognóstico de gliomas de baixo grau, tendo em vista o tratamento completo, é cerca de 7 a 10 anos.
GLIOMAS ANAPLÁSICOS (OMS GRAU III)
O tratamento consiste em microcirurgia. Também nesses casos, é importante a realização de uma excisão tumoral mais ampla possível, preservando-se a integridade das áreas vizinhas.
Quando não for possível remover a lesão em decorrência da localização crítica do tumor, ou em devido a condição clínica do paciente, recomenda-se a realização de biópsia de tecido tumoral (para diagnóstico histopatológico) e, se necessário, submeter a terapias adjuvantes (quimio e radioterapia).
A cirurgia deve ser seguida pela quimioterapia, que foi comprovadamente eficaz em oligodendrogliomas anaplásicos.
Gliomas anaplásicos são tumores muito agressivos e o prognóstico, após tratamento apropriado, é de cerca de 3 anos.
GLIOBLASTOMA (OMS GRAU IV)
O Glioblastoma exige um tratamento multidisciplinar agressivo. Consiste em excisão microcirúrgica ampla, preservando-se a integridade dos tecidos cerebrais adjacentes, seguido de radioterapia e quimioterapia (temozolamida).
A média de tempo para recorrência tumoral é entre 5 a 6 meses. Quando a lesão volta a crescer, sendo o local cirurgicamente acessível e as condições clínicas do paciente permitirem, uma segunda cirurgia é realizada.
O prognóstico não é favorável. A sobrevida média, mesmo após tratamento apropriado é de 16 meses.